Padrasto acusado de matar e estuprar Sophia aos 2 anos nega acusações no tribunal: 'amava'
05/12/2024
Christian Campoçano, acusado de matar e estuprar a enteada Sophia O'campo, sentou no banco dos réus nesta quinta-feira (5) no Tribunal do Júri, em Campo Grande. Christian Campoçano durante depoimento
TV Morena
Christian Campoçano, acusado de matar e estuprar a enteada de 2 anos, Sophia O'campo, depôs nesta quinta-feira (5) no Tribunal do Júri, em Campo Grande. O julgamento do envolvido e da mãe da criança, Stephanie de Jesus da Silva, é um dos casos mais aguardados dos últimos tempos em Mato Grosso do Sul. Ele chorou ao lembrar da morte da menina, negou ter abusado sexualmente dela, disse que a amava e a considerava uma filha.
✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 MS no WhatsApp
Em seu depoimento, ele afirmou que, antes de ser preso, trabalhava como entregador e fazia "bicos" em horários que não o prejudicavam. Sobre o relacionamento com Stephanie, disse que durou 1 ano e 4 meses e concordou que era conturbado.
Veja abaixo os principais pontos citados no depoimento:
Relacionamento
Segundo o réu, no começo a relação com Stephanie era tranquila, "como todo início de relacionamento, mas com o passar do tempo foi ficando conturbado, tanto da minha parte quanto da dela". Isto porque, segundo ele, os dois eram “enérgicos”, “explosivos com as palavras e discutiam por coisas bobas”.
Questionado pelo juiz sobre a afirmação de Stephanie de que se tratava de um relacionamento abusivo, ele negou e enfatizou que, ao contrário dele, ela ficava perto da família.
“Isso não é verdade. Quando a gente começou a se relacionar e eu ficava com ela perto da família dela, ela começou a me contar que não falava com o pai dela, que não via a avó dela, e eu falava que ela tinha que parar com isso”, respondeu. “Nós moramos perto da família dela, dos amigos dela e eu fiquei longe da minha família”.
Ainda segundo Christian, Stephanie não tinha um bom relacionamento com a família. “Quando ela mandava mensagem para a família dela, eles achavam que tinha acontecido alguma coisa, então eu via que não tinha um bom relacionamento familiar”.
Stephanie de Jesus da Silva e Christian Campoçano Leitheim.
Geisy Garnes
Uso de drogas
Assim como Stephanie, ele também foi questionado sobre o uso de entorpecentes e confessou ser usuário. “Já utilizei entorpecentes, sim, por um período de um ano. Tive problemas, sim, mas foi um período curto, não ao ponto de vender coisas ou ter uma neurose”.
Segundo ele, Stephanie já havia tido contato com drogas e o acompanhava. “Ela já tinha usado antes de mim maconha e cocaína”, disse, lembrando que era uma atitude frequente. “Sempre que tinha o produto, ela fazia o uso. As crianças ficavam com os parentes e nós ficávamos sozinhos em casa usando drogas”, contou. “A primeira vez que ela usou maconha foi em um aniversário dela, porque ela disse que era 'da hora’”.
Sophia morreu com dois anos em Campo Grande
Arquivo pessoal/ Reprodução
Maus tratos
Em relação às agressões, ele disse que não maltratava as crianças e, quando indagado sobre Stephanie, comentou que ela gritava muito. “Não posso dizer uma coisa que não vi. Algumas vezes aconteciam umas agressões, mas a gente parava, conversava e decidia por um castigo”.
Os gritos dela, segundo ele, também faziam parte. “Ela gritava muito e às vezes o grito dela parava a bagunça”.
Idas ao posto de saúde
Sobre as idas frequentes da menina ao posto de saúde, ele respondeu que não sabia os motivos. Segundo ele, a mãe “sempre levava a Sophia, mas saber o porquê ela levava de fato eu não sabia. No começo, achei que a Sophia realmente não estava bem”. A mãe alegava, conforme o relato dele, que a criança estava gripada ou com náuseas.
Sobre a notificação do Conselho Tutelar, contou que a primeira vez que viu foi Stephanie quem assinou o documento e não quis mostrar para ele. Ele conseguiu ter acesso ao documento depois e entendeu que era uma denúncia do Jean, o pai da menina, contra Stephanie.
Osso quebrado
A menina teve 30 prontuários médicos antes de morrer, um deles por fratura na tíbia, o que, segundo Christian, foi "totalmente acidental, uma queda dela".
Ele afirmou que Sophia quebrou a perna na rua. Segundo ele, Stephanie disse que foi ao banheiro porque não queria que a mãe dela soubesse que os dois saíram com as crianças em um dia que a menina não estava se sentindo bem. Mas eles levaram ela para a rua, e Stephanie colocou a menina no chão, e ela caiu do meio-fio. Ele disse ter visto o joelho da menina inchado e alegou que isso foi até motivo de discussão entre o casal.
Caso Sophia: começa júri de mãe e padrasto pela morte da menina de 2 anos
Mãe e padrasto suspeitos de matarem menina de 2 anos falam pela 1ª vez
Menina de 2 anos chega morta em UPA e polícia investiga espancamento e possível estupro
Eles foram para casa e, no dia seguinte, estranhou que “ela não levantou como todos os dias”. Quando viu o joelho realmente inchado, disse ter pedido para levarem ela ao posto porque Stephanie estava trabalhando. Na época dos fatos, ele é quem ficava com as crianças, um combinado entre o casal.
Christian afirmou que gostava da Sophia e que costumava arrumar ela e a irmã dela "melhor", mais enfeitadas por serem meninas. Também respondeu questionamentos sobre a bagunça da casa e até o fato de amigos do casal se reunirem lá, inclusive para usar drogas. Em seguida, falou sobre o dia do crime.
Dia do crime
Contou que no dia em que ela morreu, eles tinham ficado até de madrugada usando drogas e ingerindo bebidas alcoólicas. “O restante do pessoal já tinha dispersado, ficamos só eu e Stephanie. Fechamos a casa e fomos dormir, já nas primeiras horas do dia. Eu apaguei”, disse.
Christian disse ter acordado na hora do almoço e medicado Sophia que “não estava bem”. Ele dormiu novamente e foi acordado por Stephanie que informou sobre a piora da menina.
“Quando eu vi, ela já estava em um estado preocupante, convulsionando, com a boquinha roxa”, declarou com a voz embargada, mas sem responder sobre o que aconteceu com a menina. “Eu não sei explicar para o senhor”, falou ao juiz.
Troca de acusações
Stephanie disse que Christian havia agredido a menina durante o banho, mas ele negou essa informação, contando que não tinha o hábito de dar banho na menina.
“Eu não efetuei a agressão, a quantidade de drogas que usamos aquele dia não foi suficiente para causar esquecimento, porque foi uma quantidade pequena dividida entre cinco pessoas”.
Christian também foi questionado sobre a troca de mensagens com Stephanie em que a orientou a dizer que a menina tinha caído do escorregador. Ele alega ter dito isso porque teve medo de Stephanie ser presa e sobre o fato de ter dito "me manda logo preso" ainda durante a troca de mensagens, revelou ter, novamente, agido por medo de Stephanie ser presa.
“Eu não queria que Stephanie fosse presa. Eu preferia que eu fosse preso e a irmã dela ainda tivesse a mãe”.
Acusação de estupro
O exame necroscópico a que Sophia foi submetida apontou que ela havia sofrido violência sexual não recente. As suspeitas caíram sobre Christian, que sempre negou o crime. “Até para esclarecer, eu não dava banho na Sophia. Só na irmã, porque os outros dois sabiam tomar banho sozinhos, eu só lavava o cabelo deles”. Também negou ter forçado Stephanie a ter relações sexuais com ele, conforme ela disse no depoimento dela.
Christian Campoçano Leitheim foi acusado por estuprar e matar a menina Sophia.
Redes sociais/Reprodução
Christian comentou ainda que entrava em conflito com Stephanie porque a considerava fria e, quando questionado sobre as “correções”, respondeu que era algo esporádico. “Sempre evitei ao máximo a correção física, porque nunca compactuei com a ideia, então eu sempre tentava falar. Mas aconteceu algumas vezes de eu dar uma palmada, uma chinelada”.
Questionado sobre como se sentiu em relação à morte da menina, ele chorou. Christian afirmou que tratava Sophia como filha e era muito apegado a ela. Contou que a menina escolheu chamar ele de pai após ouvir o filho dele. Que chegou a questionar Stephanie sobre o que faria, ela falou: aceita.
Ele disse ainda que chegou a brigar com a ex porque ela falava que ele dava mais carinho para Sophia do que para o filho e aí ele respondia que estava compensando a ausência da mãe, que não brincava com ela e parecia distante.
Por fim, respondeu à pergunta da advogada se chegou a pensar em suicídio. “Passou pela minha cabeça. Não passava mais nada na minha cabeça, só que tudo tinha acabado”, disse, finalizando o depoimento.